Tuesday, December 2, 2008

INTERESSANTE

O QUE É PRECISO PARA AVALIAR ?
Maria José Nogueira Pinto (Jurista)

Difícil de gerir, difícil de mudar, o sector da Educação temconstituído nas últimas décadas um campo de ensaio de umexperimentalismo infeliz. Como de nove em nove anos hipotecamos umageração, a transformação deste espaço em permanente campo de batalha,num processo de desrazões, constitui hoje a mais cara factura que opaís terá de pagar ao seu próprio futuro. O processo educativo deviaser uma área de tréguas e consensos, poupada à demagogia e aoaproveitamento político-partidário e protegida de visões sectoriais,seja a do ministério ou a da máquina, seja a das corporações ou a dossindicatos, seja a dos pais ou a dos alunos.A avaliação dos professores só faz sentido num sistema que seja capazde se avaliar a si próprio. Quanto vale um bom professor num mausistema? Que causas estão na origem do insucesso escolar ou doabandono precoce da escola que possam caber, exclusivamente, numagrelha de avaliação do desempenho do professor? E que factores semantêm constantes, independentemente da envolvente da escola ou dacaracterização social da sua população?Também não vale a pena querer, no ponto em que nos encontramos,dividir simplisticamente a questão entre aqueles que querem avaliar eaqueles que não querem ser avaliados. Num país onde quase nada éavaliado, onde quase ninguém sofre as consequências dos seus actos(excepto os pobres diabos...), onde se pode deixar, impunemente, falirbancos cuja nacionalização parece um branqueamento, onde a má gestãopública e a incompetência dos decisores políticos não é sequerquantificada economicamente, onde os prémios e outros "estímulos" sãoassumidos como complementos salariais e as despesas de representaçãoservem para pagar hábitos caros, parece aconselhável falar deavaliação com menos retórica e mais bom senso.
Aceite o salutar princípio da avaliação convenhamos que não é desomenos o modelo adoptado. E aqui, interrogo-me como se avaliam osprofessores em Inglaterra ou em Espanha (para referir um país latino)?Será que temos que inventar um sistema de avaliação rigorosamenteportuguês, inequivocamente original e nosso?É que connosco tudo começa com um aumento da carga burocrática que sóserve para desviar os profissionais daquilo que é o seu verdadeiroconteúdo funcional: é assim com os profissionais de saúde imersos empapelada, ou com os agentes de segurança, amarrados, na melhor dashipóteses, a um teclado de computador e é, também, já assim com osprofessores. E a experiência ensina-nos que a burocratização dahabitualidade e do quotidiano tem em si o germen do fracasso. E quemsão os avaliadores? Que perfil devem ter e que capacitação? E quemavalia os avaliadores? E os critérios serão os melhores, e objectivos,como se impõe?Para tudo isto deve haver uma resposta, imagino eu, mas ou não foidada ou não está a ser ouvida. Em qualquer dos casos a situaçãodeteriora-se com a opção da rua como o fórum próprio, a tentativa doGoverno em transformar este protesto numa fuga à avaliação por partedos docentes e, o que me parece mais grave, o permanente desviar dasatenções, energias e recursos da função principal que é a de educar. Eessa é que é a questão. Na batalha campal da avaliação vai-se perdendotempo, razões e a própria perspectiva do que realmente está em causa eque vai muito para além do que se vê: quem não se lembra de como ossucessivos governos caíram na tentação de tapar as deficiências dosistema educativo com o artifício das estatísticas? E doextraordinário estatuto disciplinar do aluno, aprovado no primeiroGoverno de Guterres, que consagrava um aluno visto como um pequenoanimal doméstico mal ensinado e retirava aos professores toda aautoridade, componente essencial da dignidade e eficácia do seu
magistério? E as medidas facilitistas que foram eliminando provas,esforços e méritos? Fraquezas, tentações e erros que estão, agora, apagamento.